Behlux – Viajar sozinha como prática de empoderamento.
Viajar sozinha é para mim um ato de devolução. Devolvo-me a mim mesma. Liberto-me dos papéis que me vestem no cotidiano, não sou a professora Beatriz, nem a Behlux das rotinas e responsabilidades. Sou apenas eu. Inteira, despida de rótulos, em estado de presença absoluta.
Portugal é o meu chão, o meu norte e o meu sul. Sinto-o no aroma da maresia, nas calçadas que contam histórias, nos silêncios que moram entre uma aldeia e a próxima vila. E é precisamente neste país, que amo com ternura profunda, que redescobri que não preciso de mais ninguém para viver em pleno. Viajar sozinha é um gesto de afirmação e autonomia. É o meu modo de dizer ao mundo que existo por inteiro, mesmo quando, e sobretudo quando caminho só.

Sempre viajei sozinha. Por escolha, por convicção, por prazer. Porque é nesse espaço íntimo, onde apenas eu me faço companhia, que me escuto verdadeiramente. Cada viagem transforma-se num espelho sutil onde me reconheço sem artifícios. Sinto que há fragmentos meus espalhados por este país, em vilas costeiras banhadas de sal, em cidades onde o tempo se esconde em becos de pedra antiga, em cafés onde me sento, entre páginas e pensamentos, a ler e a escrever. E é nesses lugares que me reencontro. Viajar é, nesse sentido, um processo de recomposição, de cada pedaço, uma Beatriz mais inteira.
A minha vida é, em si mesma, um livro de viagens. Feito de capítulos solitários, mapas dobrados, estações que ficam, estradas que me reinventam. E cada destino é uma nova página onde me escrevo, onde me leio, onde me reinvento.

“Para viajar, basta existir”, escreveu Bernardo Soares, esse alter ego melancólico de Pessoa, no Livro do Desassossego. E há nesta frase uma verdade tão simples quanto avassaladora. A viagem começa muito antes do bilhete ser comprado. Começa no desejo. Na inquietação. No impulso de sair de si mesma.

Viajar sozinha tornou-se para mim um gesto de amor-próprio e coragem. É um ato quase poético de liberdade. Uma forma de reclamar o meu lugar no mundo, sem a mediação de um outro. Porque posso e quero viver plenamente sem precisar de ser acompanhada. Porque estar só não é estar incompleta. É, muitas vezes, estar inteira.
E talvez esse seja o maior ensinamento que a estrada me dá: não é preciso ir para longe para nos perdermos e nos encontrarmos. Às vezes, basta mudar a paisagem, escutar a cidade com outros olhos, ou seguir o som do mar que se entranha nos pensamentos. Porque é no silêncio das viagens solitárias que, finalmente, me escuto e me reconcilio comigo mesma.
Por: Revista VOIX
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