Falar da maternidade, para mim, é pisar num chão rachado. Não é simples. Não é leve. É uma lembrança que o meu corpo grita mesmo quando a minha voz se cala. Fui mãe. Sim, eu fui mãe. Uma vez. E por alguns meses apenas.

Carreguei dentro de mim um coração a bater. E com ele, nasceu uma versão de mim que eu nunca tinha conhecido. Uma versão que sentiu alegria e medo ao mesmo tempo. Uma versão que ficou doente, que ficou diferente, que gerou leite e sorrisos silenciosos… Uma versão que, um dia, ficou vazia.

Há 5 anos e 11 meses, o céu ganhou uma estrela. Uma estrela minha. Que morou no meu ventre e deixou um brilho que ninguém vê, mas que me habita todos os dias. A maternidade tem sido muito falada, mas pouco sentida em voz alta.

https://www.revistavoix.com/wp-content/uploads/2022/03/logo.png - Normah - O corpo onde morou uma estrela. -

Vivemos como se fôssemos todas iguais, mas não somos. Partilhamos dores parecidas, mas cada uma de nós carrega cicatrizes únicas, em lugares onde nem sempre há luz. Desde essa gravidez, o meu corpo guarda marcas que não desapareceram.

Uma gordura na barriga, uma curva nova, um espelho que já não me reconhecia. Vestidos justos passaram a ser camuflados. O biquíni virou inimigo. E a autoestima, essa companheira de luta, passou a sussurrar em vez de gritar.

Não é futilidade. É memória corporal. É luto em forma de pele. É o desconforto de habitar um corpo que já foi abrigo… e depois perdeu. Decidi, com coragem, começar um processo de reencontro comigo mesma.

Tenho sido acompanhada pela esteticista Aurynete Fonseca, da Body Care, e hoje sei que não estou apenas a tratar da pele. Estou a cuidar da minha história. Estou a aprender a olhar para esta barriga e dizer: “Tu foste casa, tu és sagrada.”

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Não se trata de apagar marcas. Trata-se de amá-las o suficiente para que deixem de doer. Trata-se de libertar o corpo da culpa e de devolver-lhe o direito ao prazer, à beleza, à liberdade.

Escrevo esta coluna com o coração aberto para todas as mães:

As que têm os filhos nos braços e as que os têm no céu.

As que estão a tentar engravidar e as que decidiram não o fazer.

As que carregam marcas visíveis e as que sangram por dentro. Tu és mãe.

Mesmo que ninguém te tenha dado flores no Dia das Mães.

Mesmo que o mundo não veja a tua perda.

Mesmo que o teu corpo tenha mudado e ninguém tenha perguntado como te sentes.

Tu és mãe. Tu és força.

Tu és abrigo. Tu és amor em forma de cicatriz.

Com amor,

Normah

Por: @normahooficial

Revisor de Texto: Abílio Mandlate

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