Normah – O corpo onde morou uma estrela.
Falar da maternidade, para mim, é pisar num chão rachado. Não é simples. Não é leve. É uma lembrança que o meu corpo grita mesmo quando a minha voz se cala. Fui mãe. Sim, eu fui mãe. Uma vez. E por alguns meses apenas.
Carreguei dentro de mim um coração a bater. E com ele, nasceu uma versão de mim que eu nunca tinha conhecido. Uma versão que sentiu alegria e medo ao mesmo tempo. Uma versão que ficou doente, que ficou diferente, que gerou leite e sorrisos silenciosos… Uma versão que, um dia, ficou vazia.
Há 5 anos e 11 meses, o céu ganhou uma estrela. Uma estrela minha. Que morou no meu ventre e deixou um brilho que ninguém vê, mas que me habita todos os dias. A maternidade tem sido muito falada, mas pouco sentida em voz alta.

Vivemos como se fôssemos todas iguais, mas não somos. Partilhamos dores parecidas, mas cada uma de nós carrega cicatrizes únicas, em lugares onde nem sempre há luz. Desde essa gravidez, o meu corpo guarda marcas que não desapareceram.
Uma gordura na barriga, uma curva nova, um espelho que já não me reconhecia. Vestidos justos passaram a ser camuflados. O biquíni virou inimigo. E a autoestima, essa companheira de luta, passou a sussurrar em vez de gritar.
Não é futilidade. É memória corporal. É luto em forma de pele. É o desconforto de habitar um corpo que já foi abrigo… e depois perdeu. Decidi, com coragem, começar um processo de reencontro comigo mesma.
Tenho sido acompanhada pela esteticista Aurynete Fonseca, da Body Care, e hoje sei que não estou apenas a tratar da pele. Estou a cuidar da minha história. Estou a aprender a olhar para esta barriga e dizer: “Tu foste casa, tu és sagrada.”

Não se trata de apagar marcas. Trata-se de amá-las o suficiente para que deixem de doer. Trata-se de libertar o corpo da culpa e de devolver-lhe o direito ao prazer, à beleza, à liberdade.
Escrevo esta coluna com o coração aberto para todas as mães:
As que têm os filhos nos braços e as que os têm no céu.
As que estão a tentar engravidar e as que decidiram não o fazer.
As que carregam marcas visíveis e as que sangram por dentro. Tu és mãe.
Mesmo que ninguém te tenha dado flores no Dia das Mães.
Mesmo que o mundo não veja a tua perda.
Mesmo que o teu corpo tenha mudado e ninguém tenha perguntado como te sentes.
Tu és mãe. Tu és força.
Tu és abrigo. Tu és amor em forma de cicatriz.
Com amor,
Normah
Por: @normahooficial
Revisor de Texto: Abílio Mandlate
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